
Shogi é um jogo de tabuleiro derivado do Chaturanga indiano, que deu origem a diversos jogos na medida em que era disseminado pelo mundo, sendo o mais famoso deles o xadrez.
Enquanto é pouco conhecido no ocidente, no Japão é praticado há séculos, havendo hoje liga oficializada, profissionais bem remunerados e relevante exposição midiática.
Chegou ao Brasil no início do século XX, juntamente com os primeiros imigrantes japoneses; e apesar da criação de um órgão oficial em meados do século (Associação Brasileira de Shogi) sua prática se manteve restrita aos pontos de concentração de imigrantes nipônicos e descendentes, até os anos 2000, quando a Internet levou às massas enorme quantidade de informação e conhecimento sobre todos os assuntos.

Assim, o Shogi chamou a atenção do público que tem 2 interesses em especial: xadrez e cultura japonesa (principalmente animes e mangás).
Enquanto os locais para prática de Shogi presencial no país são poucos, nos últimos anos houve grande crescimento de oferta de ambientes virtuais para sua prática, como sites e aplicativos para celular.
Para entendermos como funciona o Shogi, é inevitável estabelecermos paralelo com seu primo mais famoso, o xadrez.
Nos aspectos principais, os dois jogos são semelhantes, diferindo em alguns detalhes: dois jogadores se enfrentam em um tabuleiro formado por 81 casas (9 linhas X 9 colunas).

No Shogi temos 20 peças para cada jogador, sendo algumas de movimento idêntico ao do xadrez (bispo, torre e rei), algumas parecidas (peão e cavaleiro) e algumas bem diferentes.
O objetivo é o mesmo: capturar o rei adversário, colocando-o em uma posição em que é impossível ser defendido (“xeque-mate”).
No geral as peças têm movimentos mais curtos, o que torna o tabuleiro ainda maior, proporcionalmente.
No Shogi não apenas os peões, mas quase todas as outras peças podem ser promovidas e também todas as casas do tabuleiro são semelhantes (não há diferenciação entre brancas e negras).
As peças dos 2 exércitos são fisicamente semelhantes, em 2 dimensões, definidas por um caractere japonês – kanji, e com uma forma quinquilátera com um dos vértices apontando para a frente.

Essas características são fundamentais para viabilizar aquela que é a maior diferença entre o xadrez e o Shogi: peças capturadas passam a fazer parte do seu exército e podem ser recolocadas em qualquer local do tabuleiro, a qualquer momento! Isto é, desde que não configure uma jogada impossível (como ignorar um xeque, colocar 2 peões na mesma coluna ou algumas outras situações).
Aliás, diferentemente do xadrez (em que desavisadamente realizar um lance impossível ocasiona apenas uma pequena perda no tempo de relógio em uma partida oficial), no Shogi ocorre derrota imediata!
A prática do Shogi ainda é incipiente no ocidente, mas tem experimentado um rápido crescimento nos últimos anos.
Começam a ser formados alguns pequenos centros de excelência no mundo, sendo o principal deles na Bielorrússia, que, assim como a Ucrânia, são 2 países que antes compunham a União Soviética, de enorme tradição no xadrez.
Em termos de quantidade de jogadores e concentração em algumas cidades especificas, alguns outros Países têm se destacado, como Estados Unidos e França. E, pela proximidade geográfica e social, China e Coreia do Sul também apresentam destaque.
O crescimento da importância do mundo ocidental para o Shogi aos olhos dos japoneses teve um enorme incremento recentemente, com o aceite da primeira não-japonesa como jogadora profissional: a polonesa Karolina Stryczynska.

O Brasil conta com muitos jogadores fortes, visto que é um País de forte e consolidada imigração japonesa; alguns descendentes jogam em suas famílias desde pequenos, tendo em geral mais experiência do que aqueles que conheceram o jogo recentemente, através da Internet.
Contudo, o que falta em experiência, esta geração compensa em esforço e integração internacional, com associações virtuais de praticantes (como o Clube Nacional de Shogi – CNS Brasil) participando intensamente de competições e eventos internacionais nos últimos tempos.

Pela semelhança de características, quando tentamos vislumbrar um cenário futuro para o Shogi, a tendência é olharmos para o xadrez.
Da mesma forma, os benefícios trazidos por sua prática são semelhantes: desenvolvimento de raciocínio lógico-matemático, treinamento de capacidades como a concentração e a competitividade, e a possibilidade de criação de laços de amizade (hoje em nível internacional!).
Secundariamente pode-se falar em termos de aumento de cultura geral, em especial pelo contato com elementos da cultura japonesa e da necessidade de compreensão básica de idiomas como o inglês e o espanhol, úteis para comunicação entre os jogadores e para acessar conteúdos de estudo.
E depois de tudo, para quem se sentiu tentado a experimentar este fantástico esporte mental, sugerimos acessar os canais do CNS Brasil, onde se pode encontrar vídeos introdutórios, acesso para o grupo de WhatsApp e muito mais, tudo em português!

Outra fonte interessante de informações é o canal Shogi-Brasil, do atual detentor do mais importante título oficial brasileiro, o Meijin Koshiro Hama.
De resto, hoje há uma quantidade razoável de informações na Internet, em especial introdutórias, mas exige-se um bom nível de conhecimento de inglês e, principalmente, de japonês.
Para jogar, há vários Apps e Sites, mas o mais importante hoje é o 81 Dojo, de uso incentivado pela JSA – Japan Shogi Association.

E lembre-se: o Shogi é um jogo de alta dificuldade e complexidade, logo fazer parte de uma comunidade de praticantes desde cedo é muito importante para obter apoio mútuo, ultrapassar as barreiras das dificuldades iniciais e efetivamente começar a se divertir: palavra de um enxadrista que chegou ao Shogi através da cultura japonesa e hoje se vê realizado por poder lhe trazer estas modestas informações.
E aí, vamos jogar?
Luciano R. Correa
Membro da Staff do CNS Brasil

